A Inconveniente Loja de Conveniência | Resenha Literária
O que existe no cotidiano de uma Coreia do Sul longe dos olhos do K-pop e dos K-dramas que tanto abrilhanta os olhos do restante do mundo? A Inconveniente Loja de Conveniência, nos conta a história de Dok-go, um morador em situação de rua que se abriga na Estação Seul. Sem lembranças do passado e sem esperanças de um futuro promissor, Dok-go acaba encontrando uma bolsinha roubada por outros moradores em situação de rua, e se mobiliza para devolver à sua verdadeira dona, a senhora Yeom, uma professora de história aposentada.
A nobre atitude de Dok-go chama a atenção da professora, que em troca, o leva até sua loja de conveniência e o oferece uma alimentação como forma de agradecimento por sua boa ação. Ao ver a felicidade do homem, a senhora Yeom estende sua gratidão e informa que Dok-go pode passar todos os dias na loja para pegar uma marmita.
Claramente, o destino de ambos não havia se cruzado por mera coincidência. Após alguns reencontros entre retiradas de marmita da loja, Dok-go acaba salvando a senhora Yeom novamente, dessa vez, de um assalto à loja. A atitude dele eclode como uma ideia genial na cabeça da senhora Yeom, que convida o homem robusto para trabalhar na loja de conveniência no turno da noite, já que o antigo funcionário estava de saída.
Contudo, o pouco que os funcionários sabem sobre Dok-go, cria uma sensação de desconfiança no ambiente de trabalho, mas com o tempo, as honrosas atitudes do homem com aparência de urso robusto, vão quebrando todas as armaduras daqueles ao seu redor.
Eventualmente o livro nos apresenta novos episódios dessa narrativa, destrinchando de forma sutil o passado sombrio do homem que cativou não somente aqueles ao seu redor, como também os leitores.
O que parecia ser mais uma história banal sobre superação de vida de uma pessoa ordinária, demonstra aos poucos o porquê o romance de Kim Ho-yeon se tornou um best-seller.
Sempre acreditei que para me preencher de volúpia literária era necessário um livro extremamente fantasioso e descritivo a ponto de me tirar os pés do chão, mas aqui, foi completamente o contrário. A inconveniente loja de conveniência se apresenta como uma sutil leitura de uma vida que poderia ser a nossa, mesmo acontecendo numa cultura tão distante e discrepante da nossa, que nos faz flertar com a mensagem tão intrínseca, óbvia, mas incredulamente real.
Embora o livro não fuja da obviedade do trajeto em que vai nos levar, ainda assim, sua simplicidade carrega uma imensidade de valores que conhecemos, mas que às vezes, pelo peso que a vida nos parece ser, nos esquecemos de lembrar.
Não espere o inesperado, pelo contrário, vá de encontro a ele. A inconveniente loja de conveniência não é um livro de mistérios, apesar do passado de Dok-go ser tão intrigante que nos faz acelerar a leitura para saciar nossa curiosidade.
Ainda que o livro já nos seja informado de que este romance é sobre segundas chances e soluções de problemas aparentemente não solucionáveis, é o despertar da realidade e da vontade de viver que choca. Existe uma profunda mensagem à beira do término, que talvez, eu leve comigo para o resto da vida.
Quando você já flertou com o fracasso e com a falta de esperança totalitária da vida, com toda a certeza você conseguirá entender a mensagem sobre travessia de Dok-go, que assim como ele, foi recebida por mim com muitas lágrimas.
O que parecia apenas uma leitura aprazível, se tornou um conforto que eu sequer havia entendido inicialmente que tanto precisava. Em conclusão, A inconveniente loja de conveniência carrega consigo não somente uma capa linda de notabilizar-se em meio a outros títulos, como também o poder de sensibilizar à tantos, seja pela graciosidade de sua narrativa, como pela significativa mensagem por trás da história.
Marcella Montanari
Uma jornalista um tanto quanto nerd, apaixonada por conteúdo, música, filmes, séries e afins. Fundou o blog para dividir as alegrias e as angústias de uma vida que surpreende a cada novo capítulo.
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