MEU CORPO VIROU POESIA | RESENHA LITERÁRIA
Uma viagem de 184 páginas para se reencontrar no lugar mais difícil do mundo: em si mesma. Em seu primeiro livro de poesias, a autora e blogueira, Bruna Vieira, nos mostra a delicadeza nas palavras e profundidade nos sentimentos transmitidos por meio de poemas curtos em ‘Meu corpo virou poesia”.
Talvez as conjunturas da vida nos cercam e o sufocamento que elas nos causam nos levam ao ponto extremo de libertação encontrada por cada um, à sua maneira. Seja qual tenha sido a tentativa de enjaulamento psíquico vivido por Bruna, a obra se apresenta como o seu alvará de soltura.
Somente aqueles que já se atreveram a vivenciar as notas açucaradas da liberdade sabe que seu valor é inestimável e inegociável. As etapas do livro nos recordam das etapas da vida de uma jovem adulta que começa a se descolar de algumas fantasias que depositamos em pessoas além de nós, aqui, nasce a vontade de trilhar o próprio caminho, vivenciar os sonhos que sonhamos sem depender de terceiros e quando isso incluir mais alguém, vive-los com aqueles que estão dispostos a isso.
Num exemplo claro de como a vida é curta e que num leve sopro o amor da nossa vida pode não mais o ser, e o que nos resta aprender é o que deveria ser o nosso primeiro aprendizado: o maior amor da nossa vida somos nós mesmas.
Esqueça tentativas de nos desencorajar de amar, ou situações ilusórias e simplórias sobre o amor, seja próprio, seja por outras pessoas, aqui, é uma realidade explícita do que nos blindamos, moldados sobre as fantasias que consumimos e sonhamos vivenciar igual.
O corpo de Bruna Vieira virou poesia e nós viramos leitores vorazes de textos que nos inquietam, ao passo que nosso coração se aquece com versos e estrofes, sem aquelas rimas opcionais. Poetisa sim. Mostrando-nos que onde há dor pode também haver a beleza da arte, sem é claro, romantizar o sofrimento, pelo contrário.
Das cores às ilustrações que compõem o amadurecimento de quem, mesmo ainda com pouca idade, já enxerga a vida por uma ótica invejável. Do raso ao fundo num pulo ousado que não parece temer o julgamento propício a receber por se expor profundamente, não de forma desnuda de vestimentas, mas de máscaras e peles que as não pertencem mais.
As palavras dos cachos ruivos que neste livro nos escreve, nunca pareceram tão lúcidos e verdadeiros. Na geração em que vivemos, dois dos maiores atos revolucionários que temos é amar, já o outro é não temer ser quem é, sem medo de querer ocupar os espaços que nos pertencem, sem medo de fazer o que mais temos de valor ecoar: nossa voz.
Para os que desejam vivenciar vários loopings de dilaceramento de corpo e alma, Bruna nos mostra que a vida pode machucar, mas também nos tornar mais fortes. Algumas pessoas podem ser passageiras, assim como outras eternizadas na alma, mas que o mais importante é seguir sem desistir de nós mesmas. Leia no seu tempo, as páginas são profundas e nem sempre é fácil digerir alguns sentimentos que nos são despertos com a leitura. Belíssima obra para relembrar mulheres de quem são e o quanto é necessário se amar.
O projeto gráfico clean de Elisa von Randow e a elegância dos traços de Brunna Mancuso nas ilustrações que dão um toque de sofisticação a “Meu corpo virou poesia” e nos embalam com confortabilidade nas páginas que soam como um local seguro para se abrigar.
Dividido em quatro atos (cabeça, garganta, pulmão e ventre) que ditam pontos fortes que se não dominados por nós, nos dominam com ansiedade, medos e inseguranças que nos adoecem a longo prazo. Mais um leve lembrete de que, às vezes, podemos estar quietos ou adormecidos, mas nossa voz ainda mora aqui e merece ser ouvida. Desperte.
Ouça a narração de um dos poemas do livro "Meu Corpo Virou Poesia" pela própria autora:
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Marcella Montanari
Uma jornalista um tanto quanto nerd, apaixonada por conteúdo, música, filmes, séries e afins. Fundou o blog para dividir as alegrias e as angústias de uma vida que surpreende a cada novo capítulo.
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