Poster da nova temporada de Orange is the new black feita por fãs de diferentes países.
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7ª TEMPORADA DE ORANGE IS THE NEW BLACK | CRÍTICA

Dizer adeus para algumas séries é uma tarefa difícil e Orange Is The New Black se despede de maneira genuína dos fãs.

Sem fugir de sua essência, a série continua a nos contar diferentes histórias sobre detentas que cumprem suas penas em uma prisão feminina, abrindo os nossos olhos para outras realidades, todavia, nos lembrando de que nem sempre possuímos os finais felizes que desejamos.

Orange Is The New Black nos entrega um elenco admirável de mulheres, com personagens diversas. Uma série que abordou sem medo algumas duras realidades que por vezes são esquecidas pela sociedade. Litchfield é apenas um recorte da autenticidade de pessoas que são colocadas em situações onde por consequência, perdem o próprio senso de humanidade.

O presídio de segurança máxima transformou a vida das mulheres que protagonizam este roteiro. Algumas realidades se cruzam, em contrapartida outras não se misturam, mas todas são impactadas de alguma forma. Sem receio algum, a série apresenta os privilégios das personagens se comparado a outras. Diga-se de passagem, o contraste entre Piper (Taylor Schilling), Aleida (Elizabeth Rodriguez) e Cindy (Adrienne C. Moore).

Embora Piper enfrente algumas dificuldades para se restabelecer do lado de fora, sua inegavelmente maior preocupação se torna o casamento à distância com Alex (Laura Prepon). Diferente de Aleida e Cindy, uma mulher latina e a outra negra, que precisam enfrentar o mundo com todas as dificuldades possíveis e não podem contar com os privilégios do luxo ou do suporte de uma família que poderá ser sua base caso algo dê errado.

A EVOLUÇÃO INDIVIDUAL DAS PERSONAGENS E A CRUELDADE DO SISTEMA

Piper Chapman de Orange Is The New Black
(Reprodução: Orange Is The New Black | Netflix)

Desde a primeira temporada somos expostos à corrupção do sistema e como a moeda de troca entre detentas, guardas e diretores pode ser cruel. A ganância corrompe as pessoas que estão do lado de dentro e fora das grades. O mercado de drogas e contrabando se torna lucrativo para os guardas despreparados e descontentes com a renda anual, enquanto que as detentas lidam com vícios, sobrevivência, hierarquia de bloco e por consequência, sustento da família fora da prisão.

O sistema não se corrompe e aqueles que evoluem são esmagados por ele e eventualmente atingidos mais cedo ou mais tarde. Joe Caputo (Nick Sandow), Natalie (Alysia Reiner) e Tamika (Susan Heyward) são alguns exemplos.

Joe cometeu graves erros durante sua gestão, muitos deles injustificáveis, mas de alguma forma se importava com as detentas e tentou algumas soluções para Litchfield que foram barradas pelo sistema. Não que seus acertos justifiquem seus erros.

O CONTRASTE GRITANTE DE REALIDADES

Natalie levou muitos anos e começou a se simpatizar tarde demais pelas mulheres que cumpriam pena. É quando seu planejamento de vida familiar cruza inesperadamente com a história de uma detenta que pela primeira vez, ela se coloca na pele de alguém que ali está encarcerada. Sororidade.

Tamika assume a posição de diretora do presídio e acredita ser capaz de transformar o local com suas propostas, mas é impedida pela corrupção já instaurada, que demonstra ser quase incombatível e apresenta uma cadeia ramificada de envolvidos, dos cargos mais altos aos baixos.

Talvez um dos melhores desenvolvimentos de Orange Is The New Black tenha sido de Suzanne, interpretada pela incrível Uzo Aduba. A detenta que enfrenta problemas psicológicos, se apresenta quase como uma criança presa ao corpo de um adulto, e seu arco se fecha de forma emocionante. Suzanne começa a assimilar a gravidade do que está ao seu redor e o impacto que elas causam na sua vida e na de suas amigas.

Após a perda de Poussey (Samira Wiley), Doggett (Taryn Manning), a rebelião, a desavença e o afastamento entre Taystee (Danielle Brooks) e Cindy, é como se pela primeira vez a atmosfera ao seu redor prendesse sua atenção para a realidade. Suzanne percebendo as injustiças do sistema e fazendo com que a própria mãe questionasse a sua condenação é de arrepiar.

FINAIS NEM SEMPRE SÃO FELIZES NESTA REALIDADE

Taystee e Daya de Orange Is The New Black
(Reprodução: Orange Is The New Black | Netflix)

Ver o desfecho de Taystee e Daya (Dascha Polanco) talvez nos revele o quanto uma prisão pode transformar mais do que uma vida, mas a essência de quem convive em um ambiente como aquele. Daya que entrou em Litchfield como uma menina inocente, doce e talentosa se transforma em uma personalidade que sempre abominou depois de pegar sentença perpétua. A jovem passa a lutar por uma hierarquia dentro de seu bloco. Como forma de sobrevivência e renda, cede e domina a corrupção dentre acordos com os guardas.

Taystee sempre representou a personalidade alegre da série com seu bom humor, além de é claro, sua inteligência e paixão pelos livros. O brilho da jovem se perde perante a morte de Poussey, levando as detentas à rebelião ao clamar por justiça pela amiga e pagando caro pela exigência. Toda a explosão dos acontecimentos gera uma consequência drástica para todas, e assim como Daya, Taystee recebe sentença perpétua ao ser falsamente acusada de assassinar um guarda e não conseguir provas o suficiente para comprovar sua inocência.

Outra questão que encena a realidade. Muitas pessoas que hoje passam pelo sistema carcerário cumprem sentenças por delitos que não cometeram. A violência da violação à liberdade é tamanha que leva Taystee a cogitar o suicídio como falta de esperança. Mas é exatamente ao perceber que sua existência pode fazer diferença para outras mulheres que sim, poderão desfrutar da liberdade, Taystee retoma a si mesma, quase que como parte efetiva de Litchfield.

ABORTO, ASSÉDIO SEXUAL E ESTUPRO

Jenji Kohan nunca temeu ousar e ser real nas histórias que contava, mas a sétima temporada de Orange Is The New Black é um dedo na ferida atrás do outro.

A série nos revela questões que envolvem o aborto, tema polêmico que se torna um privilégio para mulheres em alguns estados americanos específicos, e é negado quando uma detenta imigrante solicita o procedimento após relatar um estupro. A realidade da cena atinge não somente à Natalie, como as pessoas que possuem consciência de que o procedimento se trata de uma questão de saúde.

Levando em consideração a onda crescente de mulheres que estão se conscientizando sobre o abuso de poder, a misoginia e o machismo, Kohan também aborda questões que envolvem o assédio sexual no trabalho, trazendo de volta a personagem Susan Fischer de Lauren Lapkus, que denuncia Caputo, após ser demitida ao não ceder a insistência do ex-chefe.

A VALENTIA DE EXPOR AS CRUELDADES DAS LEIS DE IMIGRAÇÃO

Blanca Flores se defendendo sozinha das acusações de imigração irregular
(Reprodução: Orange Is The New Black | Netflix)

Já conhecíamos muitas mulheres estrangeiras no presídio, mas pela primeira vez, a série tem um foco especial nos casos relacionados à imigração, afim de incomodar, propositalmente quem assiste. A temática também tem como finalidade despertar a atenção daqueles que ainda concordam com o sistema, portanto, com sua barbaridade não medida.

A criadora da série deixa clara a mensagem de que as pessoas que decidem imigrar não saem de seus países se estiverem confortáveis ou seguras, elas saem porque elas buscam uma vida melhor.

Cruzamos com histórias de mulheres que perderam seus green cards, outras que não cometeram nenhum delito entretanto estavam ilegais no país, outras que já haviam construído uma vida e constituído família nos EUA, etc. Kohan mostra a sujeira que o país esconde ou pelo menos tenta, embaixo do tapete. O sistema mais uma vez se prova desumano, não dando as mulheres detidas, a chance mínima de defesa.

Abordar as questões que envolvem crianças nos tribunais americanos nos recorda dos recentes casos reais que estão acontecendo nos Estados Unidos e a frieza que o governo lida com tal situação.

A cor laranja marca a história da Netflix com a ousadia de trazer realidade às telas, com drama, mas também com bom humor dentre as tantas dores. Alguns arcos parecem intermináveis, e talvez tenham que se parecer assim, porque este é um sistema que está longe de ter fim. É um ciclo que se repete com rostos, vivências, cores e nacionalidades diferentes.

O FUNDO POUSSEY WASHINGTON

E Orange Is The New Black nos surpreende novamente e certamente deixará um legado que eventualmente renderá frutos para uma sociedade mais justa. A Fundo Poussey Washington citada por Taystee sai das telas e ganha vida no mundo real.

A Netflix divulgou um vídeo no Youtube, falando sobre o impacto que a série causou na vida de alguns fãs, e anunciou a grande novidade tendo a atriz Samira Wiley como porta-voz, que em seu discurso fala em como aprendemos com as histórias contadas pela série, mas sobretudo que o sistema está falhando com as mulheres que estão dentro e fora das prisões.

O Fundo Poussey Washington apoiará grupos jurídicos sem fins lucrativos, afim de reformar a justiça criminal, além de proteger os direitos dos imigrantes e acabar com as prisões em massa, apoiando as mulheres que são afetadas por elas.

Para saber mais informações sobre o fundo, clique aqui.

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NOTA:

TRAILER:

Uma jornalista um tanto quanto nerd, apaixonada por conteúdo, música, filmes, séries e afins. Fundou o blog para dividir as alegrias e as angústias de uma vida que surpreende a cada novo capítulo.

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