2023 | Push Start!
Oi 2023, esta é a carta escrita a pulso que não escrevi, mas que agora está aqui para ser dividida com vocês, sobre um dos anos mais desafiadores que vivi. Esta é a carta que adiei escrever pela falta de coragem de encarar a mim mesma. Pegue seu controle, push start e vem comigo iniciar um novo level.
Não sou a pessoa que pretende fazer discursos motivacionais, sou apenas sincera, às vezes até demais, com o que sinto porque a Mah aprendeu a respeitar o tempo e a trajetória dela e muitas das vezes que ela teve a coragem de se respeitar foi de forma dolorosa, mas libertadora.
Todo o fim de ano, paramos para avaliar e reviver tudo o que enfrentamos, seja para enterrar ou eternizar na memória. Nos últimos dias, avaliando tudo, e apesar de ainda sentir vívida algumas dores, o meu saldo se tornou positivo ao término de 2022.
Eu diria que 2022 poderia ser descrito como o ano que fui liberta de mim mesma. Há 29 anos eu venho me limitando; limitando meu potencial, sentimentos, escolhas, vontades e sonhos. Foi um dos anos que mais me quebrei, enfrentei as pessoas mais importantes da minha vida, incluindo eu mesma.
Me olhei no espelho e não me reconheci, sequer me encontrei. Vaguei noites em claro ou dormindo demais. Levei dias carregados, só esperando o sol se pôr para que eu pudesse desaparecer no escuro da minha casa e fosse inundada pela minha obscuridade.
Por muitos dias, 2022 levou minha vontade de viver, engoliu minha esperança por dias melhores, me fez sentir tão sozinha a ponto de não acreditar no que sempre me fez estar de pé.
Passei dias olhando para a tatuagem que eternizei como lembrete de: “fé por dias melhores”, em 2016, e nem ela parecia fazer sentido mais. O meu luto ainda martela minha cabeça, assim como o luto daqueles ao meu redor.
Fui cercada de inúmeras tristezas, cobranças, dedos na cara, ofensas gratuitas e culpabilizações por crimes que não cometi. Definhei, tropecei e caí, quando me levantei, explodi. Me vi mais uma vez quebrando uma promessa feita há alguns anos e marcando mais alguns filetes na minha pele como forma de punição por existir, quando tudo o que eu mais queria era sumir.
Se importar demais tem um peso e não falo isso como se eu me orgulhasse, mas também não consigo ver deveras, como o meu maior defeito. “A diferença entre o remédio e o veneno está na dose”, como dito pelo médico e físico suíço-alemão Paracelso, no século XVI.
O problema primordial é que na intenção de proteger tanto as pessoas que eu mais amo na vida, eu me neguei o direito de sentir, e quando já não se sente mais nada, você já está morto por dentro. Aqui, meu flerte se fortaleceu e voltei a sobreviver, sempre tentando me poupar de discussões, conflitos e chateações que viraram uma enorme bola de neve até chegar ao ponto de não conseguir mais esconder e fingir a minha infelicidade em apenas ‘servir’ ao outro.
Sem ressentimentos pelas dores que passaram
A princípio, analisar o início do caos parece catastrófico, e como dito no início do texto, não quero romantizar dores e sofrimentos permutando aprendizado e crescimento pessoal. Estamos falando de um processo vencido que o que mais desejo é deixar para trás.
Em contrapartida com os meus demônios, me impor e dizer não gosto, não concordo, não quero, entre outros, em suma, me libertaram. As pessoas que eu amava antes, não tiveram meu amor, admiração, respeito e carinho diminutos, pelo contrário, foram eles que me ensinaram o fortalecimento e o real significado de todos esses sentimentos.
O ser humano vive nesse eterno limbo de amor e ódio, nessa sensação de desnorteamento que paira entre nós no alto desejo de sermos sempre ouvidos, não apenas respeitados, como também termos nossas vontades acatadas, desejos realizados, opiniões aceitas e verdades não contestadas, ao passo que isso nos cega.
É provável que a balança da vida esteja quebrada ou desajustada, pois é escandaloso o número de pessoas resignadas infelizes e egoístas revoltosos. Parecemos adultos infantis que de tanto querer ser ouvidos, machucamos e confinamos a vida de quem mais nos quer bem ou nos submetemos ao ‘sim eterno’ que paga pela a nossa infelicidade e nos vende como um objeto de decoração.
Pessoas não são propriedades para serem mantidas em cativeiro. Pessoas possuem sentimentos e precisam ser tão ouvidas e respeitadas quanto você deseja que elas sejam.
Falamos tanto uns dos outros, falamos tanto o quanto as pessoas nos ferem, nos julgam, mas e a nossa responsabilidade? Como eu tenho me comportado diante do outro? Durante o meu processo de cura, quantas pessoas eu venho machucando tentando me curar?
A propósito, tenho um lema desde criança porque sempre fui muito boa em fingir estar bem quando eu estava desmoronando por dentro, isso me fez perceber logo cedo que existem muitos como eu por aí.
O lema é: tentar ser sempre o mais agradável possível com as pessoas, mesmo as que não conheço e que não tem culpa pelos meus problemas, porque minha insensibilidade, irritabilidade e grosseria podem ser a gota d´água do copo de alguém. É isso. No fundo? Estamos todos feridos, traumatizados, enfrentando monstros, demônios, fantasmas, o passado, o luto, algumas guerras internas outras externas, as dificuldades da vida, a labuta de vencer na selva que criamos e alimentamos, aquela mesma, que chamamos de sociedade. No fim? Nunca vamos nos curar daquilo que nos atormenta se para isso precisarmos ferir o outro ou acreditar que a vida é uma constante dívida entre pessoas.
Um novo livro para diversos novos capítulos
Em conformidade com a descoberta do que é a vida, afinal de contas, e que viver para agradar é um eterno não viver, descobri que com quase 30 anos de idade eu talvez jamais saiba quem realmente sou, mas, com toda a certeza, hoje, sei de todas as facetas do que eu temeria algum dia me assemelhar.
Mudar é uma oferta dos deuses que poucos sabem acatar. Saber aceitar a inconstância e controlar a ansiedade para entender que nem sempre as coisas vão sair como planejado, e que esses não são grandes motivos para se perder o chão. Dê-se o tempo de reparar a bússola da vida para encontrar uma nova direção, seja para o que é que naquele momento você esteja procurando.
Somando todas as minhas perdas irreparáveis, o meu maior temor sem dúvidas foi amplificar este número, que sequer, é algo de meu controle. Esta sempre foi minha a minha kryptonita.
Na minha recente descoberta de liberdade, me reencontrei com peças da família que antes eram vistas como escombros, amigos que passaram para desconhecidos e hoje resgatados, e um querido amigo que hoje é mais do que um amigo.
Depois de 2 anos reclusa em casa, sendo a implicante ou antiquada por respeitar a ciência e o bom senso que falharam por parte de muitos, voltei a sentir um pouco do que era o mundo que um dia conheci. É verdade, fui inocente achando que sairíamos seres melhores dessa situação, mas isso não vem ao caso (agora).
2022 foi o ano em que pude voltar viajar com a minha irmã e fazer passeios inesquecíveis com fotos incríveis e várias histórias para contar. Revisitar a família, fazer passeios e ter momentos com minha mãe, reviver as risadas espalhafatosas e acolhedoras dos meus sobrinhos. Assisti a grandes ídolos que me fizeram enfrentar a pandemia sem surtar por completo como Louis Tomlinson e Harry Styles.
Senti de perto a arte de Van Gogh, assim como desvendei um pequeno fragmento da mente brilhante de Tim Burton. Adotei uma guardiã estelar chamada Luna que me protege e ronrona todos os dias para me acordar. Realizei entrevistas incríveis para projetos sociais e acrescentei novos capítulos no meu livro.
Voltei a ler de forma desacelerada e sem cobranças, como também voltei a frequentar as salas de cinema e a assistir novos animes. Me permiti viver um amor e cá estou esbanjando sorrisos frouxos e olhares patetas de apaixonada que ficam explícitos por onde passo, sem medo, vergonha ou timidez de demonstrar, que sim, estou amando e como é encantador ser brega quando se é amada de volta, sendo leve, com respeito, sem cobranças, com muita admiração, inspiração e apoio.
Quem tanto me vê sorrindo agora como se tudo tivesse sido naturalmente e descomplicado, não imagina quantas lágrimas me inundam tentando afogar essas palavras neste mesmo instante. Falar das nossas dores, insegurança, medos e traumas não são fáceis. Vocês não imaginam quantos gatilhos eu precisei enfrentar para chegar até aqui, nesta parte final, mas neste processo, aprendi que precisamos encontrar nossa forma de falar e expressar ao mundo como nos sentimos, sendo sinceros, mas sem passar por cima de ninguém ou acreditar que eu preciso atropelar alguém para ser compreendida.
A vida é curta demais para viver se sentindo miserável por sentir diferentemente dos demais. Curta demais para não nos permitir viver, mesmo que seja errando, para construir histórias ou memórias. Curta demais pra viver com medo e indubitavelmente infeliz por não arriscar e nunca saber a resposta daquilo que você apenas ‘achava’.
Curta, sucinta… breve. A maior moeda existente no mundo é o tempo, mas são poucas pessoas que se dão conta disso e quando se dão, normalmente é tarde demais. O tempo rege tudo. Não espere perder tempo de fazer o que gosta ou de dizer o que sente por medo de errar, falhar, da rejeição ou do que as pessoas vão pensar e dizer.
O ano que ficou para trás me mostrou que meu maior medo, talvez seja continuar vivendo me limitando ao que esperam de mim. Seja você e viva intensamente. 2022 ficou para trás, que comecem os novos jogos. Feliz 2023, raposada.
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Marcella Montanari
Uma jornalista um tanto quanto nerd, apaixonada por conteúdo, música, filmes, séries e afins. Fundou o blog para dividir as alegrias e as angústias de uma vida que surpreende a cada novo capítulo.
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