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DESMASCARANDO O ÓDIO EM INFILTRADO NA KLAN| MARATONA 2019

Dando andamento a nossa Maratona do Oscar 2019, falemos agora de Infiltrado na Klan, do incrível Spike Lee. Indicado a 6 categorias do Oscar, sendo elas: Melhor Filme, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Diretor, Melhor Trilha Sonora Original, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Montagem. Spike Lee não teme tocar o dedo na ferida em Infiltrado na Klan e expõe de forma realista, o que muitos ainda se negam a enxergar, mesmo que com uma certa leveza durante a narrativa. O filme foi adaptado a partir do livro, lançado em 2014, e nos conta a história verdadeira do policial negro Ron Stallworth (John David Washington), que conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan na década de 70. Chega a ser absurdo imaginar que isso seria possível, mas aconteceu em parceria com um policial branco, Flip Zimmerman (Adam Driver). Enquanto Ron era o cabeça da missão e comandava tudo o que podia por telefone, Flip marcava presença nas reuniões, fazendo com que os dois colaborassem integralmente um com o outro. 

OBS: O TEXTO CONTÉM MUITOS SPOILERS, ESTEJA AVISADO(A)!

O tom “leve” de Infiltrado na Klan não isenta o espectador de se sentir incomodado com o que assiste, principalmente ao conseguir assemelhar tantas ideias e falas “antigas” com as atuais que nos acercam, seja no meio político quanto na fila da padaria. Infiltrado na Klan assemelha cenas e diálogos aos que temos ouvido com recorrência ao longo dos anos e que cruzam fronteiras, e ainda hoje vivemos essa preconceituosa realidade. O pior é a indigestão causada quando ainda assim assistimos nossa sociedade sendo capaz de escolher governantes que exercem o poder de crucificar uma parcela da população. Spike Lee coloca o racismo diante de nossos olhos em uma ficção extremamente real, onde extremistas afirmam que fatos históricos não aconteceram, foram grandes manipulações, o que aparenta no mínimo algum tipo de déficit de memória, para não chamarmos de estupidez.

(Reprodução: Infiltrado na Klan | Universal Pictures)

DESMASCARANDO O ÓDIO AO SE INFILTRAR NA KLAN

Um breve diálogo entre o Sargento Trapp (Ken Garito) e Ron chega a arder na face como um tapa muito bem dado:

Sargento Trapp: Eu tenho um amigo, ele se mantém informado sobre esses grupos. Ele disse que eles estão tentando se afastar do antigo estilo racista violento. É a imagem que o Duke está tentando vender. Está se tornando algo convencional.

Ron Stallworth: Duke?

Sargento Trapp: David Duke. O atual grande mago por trás da Klan, mas ele sempre está bem vestido. Nunca foi visto com um capuz ou manto em público, e agora ele atende pelo título de diretor nacional. Ele certamente está de olho em cargos altos.

Ron Stallworth: Política? Por quê?

Sargento Trapp: Sim. Porque é outra forma de se vender ódio.

Ron Stallworth: Fale mais sobre isso.

Sargento Trapp: Pense sobre isso. Ações afirmativas de imigração, crime, reforma tributária. Ele diz que ninguém quer ser chamado de intolerante mais. Acho que Archie Bunker fez que isso não soasse legal. Então a ideia está sobre todos esses problemas. Todos os dias o cidadão americano pode aceitá-la, apoiá-la, até que eventualmente algum dia, ele possa colocar alguém na Casa Branca que personifique isso.

Ron Stallworth: Sargento, qual é. A América nunca elegeria alguém como David Duke como o presidente dos EUA.

Sargento Trapp: Vindo de um negro, isso é muito ingênuo. Por que você não acorda?

Esse diálogo nos remete a famosa frase clichê: eu já vi esse filme.

(Reprodução: Infiltrado na Klan | Universal Pictures)

Impossível negar que a presença de seres como David Duke estão mais presentes do que nunca em nossa política mundial. “Ele soa como nós”, foi o que Duke disse a respeito do atual eleito máximo do Brasil. Infiltrado na Klan também exibe diversas falas dos membros da KKK afirmando que fatos históricos como o Holocausto foram mentiras inventadas por judeus e que os documentos reais que comprovam tudo são na realidade Fake News … e aí? Reconhece mais alguém que faz isso para tentar provar um ponto de vista? Pois é.

Adam Driver também entrega um ótimo personagem com Flip, um cara que não é racista, mas que também nunca fez muito para lutar a favor do que era certo e passa a questionar a si mesmo e seu comportamento após o envolvimento com a KKK. É preciso citar que Ron também luta contra seu próprio povo ao exigir se envolver e agir contra os racistas, de uma forma inusitada perante os olhos do movimento Black Power. Necessário mencionar que ao longo dos anos a violência policial contra pessoas negras ainda se faz cruelmente presente não somente nos EUA.

NÃO HÁ ESPAÇO PARA O ÓDIO

Para fechar a narrativa de Infiltrado na Klan, Spike Lee traz diversas filmagens sobre os infelizes acontecimentos em Charlottesville em 2017, quando neonazistas foram para as ruas protestarem contra diversas minorias, como negros e o movimento #blacklifesmatter, judeus e imigrantes. Lee também não poupou as falas polêmicas de Trump, que soaram como uma defesa do ato. Assistimos também ao protesto que teve pessoas atropeladas e mortas por uma pessoa intolerante.

NOTA:

TRAILER:

Continue acompanhando nosso especial Maratona Oscar 2019! 😉

Uma jornalista um tanto quanto nerd, apaixonada por conteúdo, música, filmes, séries e afins. Fundou o blog para dividir as alegrias e as angústias de uma vida que surpreende a cada novo capítulo.

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