Foto do livro "Bem-vindos à Livraria Hyunam-dong"
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Meus dias na Livraria Morisaki | Resenha Literária

Uma leitura que parecia um tanto quanto despretensiosa, de uma escrita simples, ‘Meus dias na Livraria Morisaki’ se tornaram páginas de resgate e afago em meio a uma realidade conturbada que nos cerca.

Sem excentricidade, conhecemos a tímida Takako, uma jovem de 25 anos que saiu do interior do Japão para viver em Tóquio em busca de ascensão profissional, mas que de repente, vê seu mundo desmoronar diante seus olhos.

Quando se encontra um bom trabalho e um parceiro chamado Hideaki que parece ser a pessoa perfeita para se construir uma jornada em conjunto, é natural que a vida pareça menos ameaçadora e mais reconfortante, todavia, tudo isso acaba não passando de um sonho efêmero.

De maneira inesperada, Hideaki, que além de então namorado também é colega de trabalho de Takako, a surpreende com o anúncio de que vai se casar, mas não com ela, e que todo o tempo que estiveram juntos não significou nada para ele além de diversão. Se manter no local de trabalho se torna insustentável para Takako, que acaba pedindo demissão e consequentemente em estado depressivo, após a infeliz descoberta de como Hideaki a enganou.

Inesperadamente, após sua demissão, Takako recebe uma ligação atípica de Satoru, um tio que ela não via ou tinha contato havia muitos anos e que a convida para morar com ele na Livraria Morisaki, que está na família há três gerações e fica localizada no distrito Jinbôchô, o paraíso das livrarias em Tóquio.

O convite do tio Satoru parte do princípio de ser um pilar na fase de reconstrução de Takako, afinal de contas, a jovem não teria que se preocupar com aluguel, alimentação e demais despesas financeiras enquanto reorganiza a própria vida e encontra outro trabalho. No entanto, depois de alguns anos vivendo sozinha na cidade grande, ir morar com o tio soa quase como um retrocesso, mas por fim, Takako aceita o pedido, mesmo que de mau grado a primeira instância.

Por conseguinte, ‘Meus dias na Livraria Morisaki’ nos apresenta uma atmosfera imersiva e impressionantemente aconchegante, mesmo acontecendo dentro de uma das áreas urbanas mais populosas do mundo.

O universo que abrange a vida de uma jovem adulta que no início das suas conquistas parece perder o chão de repente, por tanto se dispor de si mesma, dos seus sonhos e suas vulnerabilidades a quem não as merecia. A possível identificação vem dos mesmos sintomas que a geração millenials sente: a obrigação de ser bem aceito e sucedido em todas as atmosferas da vida, seja ela educacional, profissional, amorosa ou familiar.

Foto do livro "Meus dias na livraria Morisaki"

Somente quem já se doou tanto por alguém acreditando cegamente em seus sentimentos que aquilo era o certo a se fazer, conseguirá entender o abismo que se forma aos pés de Takako quando todas as possibilidades somem diante às atitudes de Hideaki.

Quem nos dera ter ao lado de forma incondicional, um querido tio Satoru, mesmo que por vezes apocalíptico, mas incrivelmente excêntrico e com uma bagagem secreta de histórias que moldaria positivamente à nossa dali em diante.

Esperando ler uma história secretamente proibida dentro daquele pequeno sebo, Meus dias na Livraria Morisaki demonstra que em um local como aquele, protegido há gerações, guarda muito mais do que livros antigos e histórias esquecidas pelas novas gerações; é possível sentir pulsando cada palavra não dita de vidas que se passaram e se construíram ali ou a partir dali.

Admitir ter me deixado levar primordialmente pela pequinês da minha ignorância ligada à cultura japonesa e seu tratamento quanto a imagem e a importância das mulheres na sociedade e construção social, inesperadamente, vejo Yagisawa nos guiar por duas grandes figuras femininas.

O calor paternal que emana da imagem de Satoru, à primeira instância parece que vai nos dominar por completo e seguir crescendo com destaque até o fim, todavia, é a luminescência de Momoko a cereja do bolo.

Somente uma mulher, esteja ela na flor de descobrir o que de fato é a vida, ou aquela que já possui suas cicatrizes como lembretes de guerras vividas na pele, sabe entender perfeitamente o que aflige umas às outras, sem precisar que haja grandes explicações. Ainda que elas existam ou apareçam, nossos corações se unem profundamente quando as descobrem. Se bem que, somente uma mulher sabe a delícia e a dores de ser uma mulher.

Preciso agradecer Satoshi Yagisawa particularmente por escolher o distrito Jinbôchô como cenário dessa história tão acolhedora, e por apresentar aos leitores e bibliófilos do mundo que ainda não conheciam esse local admirável que soa quase como fictício, mas não é.

O que parecia ser uma misteriosa história dentro de uma livraria no Japão, se torna uma aconchegante reviravolta interna em meio a livros, sebos, sentimentos passados, um reencontro necessário de si, o conforto de poder estar por perto de familiares que amamos e que verdadeiramente nos amam, e por que não, do amor improvável com gosto de café e cheiro de novas páginas de livros ainda não lidos.

Àqueles que procuram uma cura interna por meio dos livros, Meus dias na Livraria Morisaki é uma ótima escolha do gênero Literatura de Cura. Uma história leve, datada de um cotidiano cozy pouco conhecido na capita japonesa, se assimilando mais com a ideia que o mundo ocidental tem das pequenas cidades e vilarejos no interior do Japão.

Ficha Literária do livro "Meus dias na livraria Morisaki" por Satoshi Yagisawa

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Uma jornalista um tanto quanto nerd, apaixonada por conteúdo, música, filmes, séries e afins. Fundou o blog para dividir as alegrias e as angústias de uma vida que surpreende a cada novo capítulo.

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