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The Handmaid’s Tale | Uma realidade não tão distante do Conto de uma Aia

Quem já ouviu a famosa frase “a vida imita a arte mais do que a arte imita a vida”, de Oscar Wilde? A série baseada na obra de Margaret Atwood, o Conto de Aia, nos conta uma história de uma sociedade sombria que nos faz questionar o quão próximos/distantes estamos de viver em uma realidade cruel como a exibida. Será mesmo uma distopia?

Os EUA sofrem um golpe de estado de grupos religiosos extremistas, os Filhos de Jacó, a fim de implantar um novo território, Gilead, livre de pecados e corrupção. Nos é relevado na série que o grupo planejou e executou vários ataques ao governo americano e aos chefes de estado, congelaram contas bancárias e demitiram todas as mulheres de seus postos de trabalho. Todos aqueles que se apresentaram contra o “novo governo” foram revidados com brutalidade e violência, aparentemente, deixando os civis sem muitas chances de lutar contra.

(Reprodução/Hulu Streaming: The Handmaid’s Tale)

Misericórdia é uma palavra com pouco significado em Gilead, já que os Filhos de Jacó, eliminam ou punem severamente qualquer um que apresente ameaça às crenças do grupo autoritário.

Gilead impõe um novo regime de classes e cruelmente patriarcal. As pessoas foram atribuídas a postos na nova república, papéis esses que não devem ser questionados, mas cumpridos. Os Comandantes são os homens que aparentemente ocupam um dos cargos mais altos da república. Os Olhos são como espiões da república, com o papel de vigilar seus comandantes e as demais pessoas ao seu redor, para delatar qualquer coisa que esteja fora dos parâmetros de Gilead.

Mulheres são completamente subalternas, mesmo as que estão em cargos melhores. Elas não devem questionar os homens e devem total obediência. As Esposas, sempre de vestimentas verdes, são casadas com os Comandantes e aparentemente estão em um nível mais alto entre as mulheres, mas ainda assim vivem de forma a submeter-se aos maridos. As Tias também possuem um pouco maior de influência, elas são as responsáveis pelos treinamentos das Aias, seus comportamentos e partos; suas vestes lembram vestes militares. As Aias vestem vermelho e são mulheres que foram destinadas a procriar, na intenção de prover filhos aos Comandantes e as Esposas. Não fica muito claro o por que na série, mas a fertilidade caiu em níveis assustadores, e muitas mulheres e homens se tornaram estéreis. As Aias também perdem seus nomes de origens e passam a ser nomeadas de acordo com o sobrenome da família que servem. As Marthas são as mulheres que servem as famílias dos Comandantes, realizando tarefas da casa; vestem cinza. Existem outras classificações de pessoas, mas as que mais temos contanto ao longo da história são as citadas acima.

É válido lembrar que existe alguns territórios em Gilead nomeados como Colônias, que são locais tóxicos por radiação, ao que tudo indica pelas falas dos personagens. É um dos locais mais temidos a ser destinado, porque a morte é certeira, porém lenta e dolorida.

Além de tudo já mencionado, como é de se esperar de uma república intolerante e extremista, homossexuais são severamente punidos. A palavra gaypor exemplo é proibida, e se destina a essas pessoas como Traidoras de Gênero, a maioria termina nas Colônias ou enforcadas no muro perto do rio, porém em raras exceções como Emily (Alexis Bledel), que é lésbica e teve sua real orientação sexual descoberta. Emily continuou servindo como Aia, mas somente após ter seu clitóris removido em processo cirúrgico, como punição por “seus pecados”.

The Handmaid’s Tale narra a história de June (Elisabeth Moss), uma Aia que vai nos revelando o quanto Gilead consegue ser cruel. June nos conta aos poucos ao longo de duas temporadas até o momento, como perdeu o emprego, teve sua conta bancária congelada, como sofreu repressão violenta ao se manifestar contra o golpe, como foi ter sua filha arrancada de sua vida, como foi obrigada a servir como aia ao invés de ir para as colônias ou acabar enforcada no muro, para servir de aviso aos demais.

A vida das Aias são as mais difíceis de “engolir” no seriado. A realidade desumana de ter que se submeter a “estupros” provoca revolta em quem assiste, ou assim ao menos deveria. Todo o mês acontece uma Cerimônia em que a Aia se deita no colo da Esposa e tem seus pulsos segurados pela mesma, enquanto o Comandante a estupra, na intenção de que o estupro conceda um filho ao casal. A Cerimônia foi baseada a partir de um trecho da bíblia.

A submissão das mulheres cria repulsa em todos os momentos. Elas perderam suas identidades, empregos, maridos, filhos, vozes, liberdades, direitos, respeito, valores e assim a lista segue. Gilead também nos demonstra que a república é sim, mais cruel com alguns do que com outros, porém, causa medo a TODOS, sem exceção, inclusivo aos homens, responsáveis pelo golpe. Nos é revelado a todo o momento que todos possuem extrema cautela com o que dizem, fazem, revelam, porque todos estão sendo vigiados o tempo todo por seus atos.


Abençoado seja o fruto? Que o senhor possa abrir? Sobre o olho dele?

The Handmaid’s Tale é um embrulho no estômago necessário para nos despertar do caos que podemos viver por acharmos que podemos nos impor perante aos demais, por achar que nossas crenças e valores são os corretos a se seguir e anularmos todo o restante. Gilead é a representação da intolerância, abraçada a violência mascarada de religiosidade; é o corte de liberdade de todos, incluindo os que abraçaram o caos, todos temem tudo e a todos a todo o momento. A série nos serve de lembrete que nossa voz importa e que atitudes silenciosas de quem menos esperamos podem causar grandes estragos e que precisamos estar atentos ao que não está sendo dito. Nos revela que ao tentar arrancar a liberdade de outros, também estaremos arrancando a própria e o quão é necessário se manter humano, mesmo que isso pareça estúpido de ser dito.


(Reprodução/Hulu Streaming: The Handmaid’s Tale)

Um grande destaque para a fotografia da série, trilha sonora, elenco e direção. Espetáculo.

NOTA:

Trailer:

Uma jornalista um tanto quanto nerd, apaixonada por conteúdo, música, filmes, séries e afins. Fundou o blog para dividir as alegrias e as angústias de uma vida que surpreende a cada novo capítulo.

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