2019 PASSOU E NÃO VAI DEIXAR SAUDADES
Faz um tempinho que não venho aqui publicar algum texto pessoal como fiz no início do blog, mas acho que a despedida do último ano pede uma dessas publicações já que 2019 passou e não vai deixar saudades, pelo menos não pra mim.
Em toda virada de ano vejo pessoas fazendo piadas e memes a respeito do desespero de outras em esquecer todos os males que um ano causou e eu as entendo perfeitamente. De fato, uma vida só se transforma a partir da gente, assim como daquele universo que nos cerca, mas nem sempre mudar o nosso redor depende só de nós ou da nossa vontade, ele exige muito mais do que isso, pois se fosse dessa maneira, ninguém seria facilmente infeliz nessa vida.
2019 foi intenso, sofrido e temerosamente sombrio; ele fortaleceu muitos que viviam embaixo de tapetes escondendo suas verdadeiras faces, deu voz a discursos opressivos e esmagou severamente uma parcela da população que já é esmurrada há séculos. Vi a intolerância e o preconceito engolir pessoas que chamei de amigos, vi a curiosidade e a invasão de privacidade assolarem o meu caminho por pessoas que confiei, me despedi de quem não pude salvar ou dar adeus, percebi que sentir saudades não basta e que o discurso é mais bonito no papel, porque pra alguns, depois de alcançar algumas metas pessoais, é cada um por si, boa sorte e Bon Voyage.
Quando me questionavam o porquê do meu temor em relação a 2019, me perguntei diversas vezes se de fato queriam saber. Não me enganei. Aos que escolhi responder, fiz um teste de curiosidade e recebi as breves respostas desinteressadas que esperava receber sobre o que havia dito – com raríssimas exceções.
Sei muito bem o que é se sentir sozinha, perdida, desamparada e muitas das vezes não de fato estando, assim como tenho consciência de que não sou a única. 2019 talvez tenha sido o ano em que mais me senti sozinha e sem esperança. O ódio nos engoliu como sociedade e nos dividiu como seres humanos. As etiquetadoras começaram a colar nossos rótulos e o diabo escolheu as religiões como marionetes para comandar a desesperança que se alastrou pelos quatro cantos do país e assumiu o comando daqueles que perderam a capacidade de pensar no próximo ou por si mesmos.
A falta de empatia me assusta, o desrespeito me enoja e o enganar a si mesmo por vergonha ou insegurança de admitir um erro para sustentar o próprio ego ainda será a nossa ruína. O maior engano do ser humano é insistir no erro de que podemos sobreviver uns sem os outros. Não podemos. O que mais ouvi foi para pegar minhas dores e transformá-las em fortalecimento.
Quem começou a romantizar a ideia de que é preciso sofrer tanto, alguns ao ponto de não querer viver mais, para aprender algo?
Quando olho pra trás, me vejo em um oceano desconhecido, sozinha, boiando descalça e desesperada em alto mar, olhando para os lados em busca de um socorro que nunca veio. Os braços cansados de dar braçadas na tentativa de sobreviver, mas com algo que me puxava para baixo de tempos em tempos e me soltava, para que eu pudesse voltar rapidamente em busca de oxigênio na superfície… me torturando lentamente.
Meus ganhos? Um quadro clínico incompatível com a minha idade, com meus objetivos e sonhos. Meus movimentos foram roubados e fiquei debilitada por meses devido a minha saúde física e mental. Vi pessoas ao meu lado até o momento em que a dor delas era algo compatível entre nós, mas quando o sol apareceu em suas janelas, elas sumiram assim como as nuvens cinzas em seus horizontes.
Eu me apeguei aquilo que sempre me manteve viva ao longo dos anos: a cultura pop. Foram as histórias envolventes, os personagens incríveis, à imaginação, os acordes e as diferentes vozes que me inspiravam diariamente e me moviam para executar o mínimo necessário. Fora as páginas que ainda não havia lido, os autores que me deram colo e esperança num momento onde a luz estava em falta.
Tudo foi desafiador como não deveria ser. A vida não é um mar de rosas e desde os 9 anos eu não espero grandes realizações dela. Aos 26, com os 27 batendo logo em minha porta, a única busca que tenho querido é a tão almejada paz, que me foi roubada até nos momentos em que me mantive isolada.
Você pode ser a diferença no ano de alguém. Suas escolhas boas ou ruins podem afetar os sonhos e ou objetivos de alguém. Sua decisão de agir ou se ausentar pode mudar ou tirar a vida de alguém. Sua fala, afeto ou falta de importância também. E você achando mesmo que um ano e todos os seus acontecimentos dependessem única e exclusivamente de você.
“Ah, mas problemas todos temos” – mas o passado, as cicatrizes e a forma de lidar com eles não são as mesmas, os parâmetros não são os mesmos, já que nenhum de nós somos iguais, assim como não temos trajetórias iguais. Sua conquista de pensar diferente e conseguir lidar de forma melhor com a situação não faz aquele que não pode menos que você. 2020 surge como novo sim. Novas oportunidades não somente nossas de recomeçar, mas do próximo também.
Desejo a você um ano menos egocêntrico e mais dentro da realidade, não da sua no caso. Desejo que você saia da sua zona de conforto, da sua bolha e cruze a linha de vista do próprio umbigo. Desejo que você reconquiste a capacidade de pensar no outro e se lembre de ser gentil com o próximo, independentemente de quem ele seja. Desejo que você aprenda a cuidar da própria vida e a respeitar o que for diferente de você.
Desejo que vocês parem de endeusar políticos e passem a enxerga-los como são e a cobrá-los pelo o que são elegidos pra fazer. A competição só existe entre nós enquanto eles promovem um banquete com a nossa carne e nossos lucros. Desejo que você aprenda de uma vez por todas que o estado é laico e que os preceitos da sua religião devem ser seguidos e obedecidos por você somente.
Desejo que você desenvolva a habilidade de reconhecer os seus privilégios e a entender que é exatamente por tê-los que é preciso sair em defesa daqueles que não os têm. Desejo que você pare de rotular as pessoas pelos seus próprios preconceitos e pare de espalhar mentiras de uma vida que não é sua.
Desejo o equilíbrio e a estabilização da saúde mental de todos que foram cruelmente lesionados em 2019. Em 2020, seja a sua própria prioridade porque você não será na vida de quem acredita ser.
A você mulher: escolha ser livre! Escolha essa que infelizmente acompanha muito julgamento que causa sofrimento, mas que é a melhor escolha que você poderia fazer por si mesma.
A eu mesma: lute pelo estado de felicidade que não é constante, mas que você merece sentir.
Adeus 2019 e Feliz 2020! Que iniciemos uma nova década sendo seres humanos melhores.
Continue navegando em nosso blog. Para acessar o último post publicado, clique aqui.
Marcella Montanari
Uma jornalista um tanto quanto nerd, apaixonada por conteúdo, música, filmes, séries e afins. Fundou o blog para dividir as alegrias e as angústias de uma vida que surpreende a cada novo capítulo.