O QUE TORNA A VIDA RARA?
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Nunca parei para pensar o que torna a vida rara ou algo tão especial. Talvez seja um grande pacote de coisas que torna tudo único, talvez o próprio existir seja algo extraordinário ou quem sabe damos o sentido que mais cabe dentro de nós. Porém, é certo afirmar que cada um de nós tem um sentido próprio e único, diferente uns dos outros, mas volto a perguntar: “o que torna a vida tão rara?”.
Lembro-me de quando era pequena e morava no fundo da casa dos meus avós, onde o grande quintal era meu mundo particular. Adorava subir na grande jabuticabeira, mesmo quando não havia frutos. De cima de sua copa eu contemplava o mundo e me sentia gigante, pois dava para ver tudo de lá: vovó na cozinha, os meninos brincando na rua, o quintal do vizinho e era possível ouvir o ‘Seu Amadeu’ tocando a clássica sanfona; naqueles momentos eu me sentia livre e segura.
Quando nos mudamos já não havia mais a jabuticabeira, mas no terreno ao lado de casa havia muitas árvores, incluindo duas grandes mangueiras, onde colocamos balanços e as tardes na jabuticabeira se tornaram tardes nos balançando na mangueira. O objetivo era chegar o mais alto possível, quase alcançando as folhas da copa; coitados dos braços da minha mãe. Em uma dessas tardes, acabei cortando o pé com um caco de vidro, lembro dos vizinhos me carregando no colo e fazendo de tudo para me acalmar. Hoje, a cicatriz no pé foi tudo o que sobrou dessa doce lembrança.
As árvores foram cortadas e com elas as doces tardes no balanço, que foram substituídas por tardes de brincadeiras na rua de terra batida em frente de casa: futebol, bolinha de gude e até carriola. A gente só voltava para casa à tarde, com as roupas e os pés vermelhos de terra, um espaço tão pequeno onde cabia tantos sonhos e brincadeiras.
Quando as férias chegavam, era tudo tão maravilhoso… não havia praia ou resort, mas tinha o sítio do meu padrinho, tinha vaca, pasto, muitas árvores de goiaba (que até hoje é minha fruta preferida), tinham muitas brincadeiras e aventuras, como nadar no rio, andar a cavalo, bicho de pé e terço. Mas a gente cresce… bom, é o que dizem por aí, aumentam as coisas para fazer e as férias não são mais as mesmas.
Então os dias se preenchem com escola, amigos e esportes, futebol, natação, basquete e bike. Foram tantas coisas vividas, como andar de bicicleta rosa para cima e para baixo, quase voava nas descidas e subia os montes pedalando sem me cansar. Tantas amizades feitas, amores sentidos, tantos aprendizados e entre tudo isso a gente continua crescendo.
Até que chega a grande onda das primeiras coisas, como: o primeiro beijo, o primeiro amor, a primeira desilusão, o primeiro emprego, o primeiro vestibular… o primeiro tudo. Coisas novas a todo instante e nesse misto de sensações de descobrir e se entender torna o processo um pouco dolorido.
Nesta confusão toda, eles esperam que a gente tome decisões para a vida toda, como quem seremos, onde estaremos daqui há alguns anos, quais serão os nossos objetivos, os maiores sonhos e desejos. Como escolher o que ser se nem sabemos quem somos agora?
Entretanto acabamos por escolher e uma onda de novas coisas chega, novos amores, novos amigos, novos desafios, novos desejos, novos entendimentos, novas visões. Nos tornamos novos e tudo o que éramos já não o somos mais.
O que torna a vida rara para você?
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Aline Soares
Jornalista que vive se questionando sobre a vida, o universo e tudo mais. A cada dia mais apaixonade por essa ideia de existir, sempre em busca de deixar o mundo melhor do que encontrei.
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